Este “causo” faz parte de um acervo de textos para um livro escrito a quatro mãos com meu Grande e Saudoso Primo Fernando Corpa, que também integrou a Equipe Troféu Pesca. Embora pronto, o livro nunca foi publicado.
Bomediano
Em toda Jacareí, não deve haver outro pescador de tilápias e lambaris mais produtivo que meu Irmão Tonico. É demais! Sua competência, aliada à sorte desmedida, são coisas daquelas de desanimar quem com ele queira cair na besteira de competir. Não adianta insistir, pois a derrota é certa. Com isso, é muito conhecido por quase toda a comunidade de pescadores esportivos da região.
Hoje em dia já não pode mais praticar a pesca com a mesma assiduidade que antes, mas os locais onde costumava mais pescar eram na Represa de Santa Branca e Represa de Salesópolis.
Certo dia, procurado por um amigo, foi propositadamente convidado para uma pescaria de tilápias e lambaris na represa de Santa Branca, afinal, sua presença garantiria sucesso de qualquer maneira, já que sempre dividia o resultado de sua sorte e técnica.
No dia seguinte, preparados, seguiram os dois levando iscas diversas, tais como: macarrãozinho, siriri, larva de siriri, capim marmelada, milho verde, milho azedo, bichinho de pão e uma massa especial para tilápias. Levaram também muito farelo de milho e pedaços de cupinzeiros com larvas para fazer a ceva, além de um bom lanche e refrigerantes.
Sentaram-se ao barranco, guardando boa distância entre si e começaram a pescar, escondidos entre a vegetação. Naquele dia os peixes estavam atacando bem as iscas, de modo que até o companheiro de Tonico conseguia fisgar alguns.
Passaram assim o dia inteiro, compenetrados em seu entretenimento. Quase no final da tarde, Tonico olhou para onde o companheiro estava e viu, mesmo entre a vegetação, que ele continuava lá pescando, ou ao menos, parecia estar pescando. Vez ou outra olhava para lá e verificava que ele continuava firme em sua “árdua” tarefa, sentado em frente ao leque de varas de espera.
Chegada a hora de voltarem para casa, Tonico começou a arrumar a tralha e foi levar uma primeira carga para o carro. Quando voltou viu que o companheiro nem começara a arrumar sua tralha e foi então, apressá-lo, pois já passava das oito horas da noite e queria voltar logo para casa, para descansar, pois no dia seguinte, muito trabalho o esperava. Foi quando ao dirigir-lhe a palavra, não obtendo a esperada resposta, verificou estupefato que a imobilidade e o silêncio do companheiro, decorriam simplesmente do fato de estar completamente sem vida, morto!
Tonico, apavorado, ainda sacolejou-o, chamando-o, na esperança de que aquilo não passasse de um mal estar momentâneo, mas infelizmente não obteve mais resposta. Estava mesmo morto. Meu Irmão entrara mesmo numa fria. Muito chateado e entristecido pela perda do amigo, confuso também pelo revés que o dia lhe reservara, restou-lhe então ir até Santa Branca, pedir ajuda e chamar a polícia.
Quando retornou com dois policiais, estes resolveram voltar à cidade para buscar um médico ou perito. Assim, Tonico teve que amargar a inusitada situação de ficar ali, sozinho com o companheiro morto. À meia-noite, quando a equipe chegou, diagnosticou inicialmente como causa mortis, um infarto fulminante e o liberaram.
Ele costuma dizer que aquela pescaria foi a mais chata e triste que fez em sua vida, sem contar a dificuldade em dar tão nefasta notícia aos familiares do amigo. No entanto, acredita que o amigo teve a sorte de morrer fazendo aquilo que tanto gostava de fazer e certamente isto estaria lhe rendendo agora, estado de graça, no céu.
Acho que Tonico está mais que arrazoado!
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