A Pesca de Corvinas de Água Doce

Esta matéria foi publicada no Pescaki em 16/02/2016.

Bome

Na região do Vale do Paraíba há corvinas na Represa do Jaguari. Não faz muito tempo coloquei uma matéria sobre a pesca de corvinas na Revista Pesca & Companhia e, desde então, vários foram os pedidos para que fizesse uma matéria aqui, de maneira que, no proveito das fotos da revista, passo a mostrar.

Este tipo de pesca é bastante tranquilo, vez que não demanda sair à cata do peixe, tal como fazemos com os tucunarés. Geralmente fazemos uma grande jornada em uma área bastante reduzida, com movimentação entre pequenas distâncias, salvo em dias muito especiais.

Então, a primeira providência será procurar um bom ponto de pesca, valendo dizer que se o pescador dispuser de um sonar, será melhor e mais fácil. Os melhores pontos, sobretudo no verão, são aqueles com bastante estrutura e com profundidade variando de 7 a 12 metros de profundidade conforme a hora e condições do dia.

Vejam bons exemplos de pontos de pesca

Após a escolha de um ponto de pesca, ou a localização de um cardume, é necessário poitar o barco ou então amarrá-lo nas estruturas aparentes do local.

Um pequeno problema que se verifica na Represa do Jaguari é que o resultado, quase sempre muito bom em termos de quantidade, fica devendo em termos de tamanho, muito embora, alguma que outra peça de maior tamanho acabe por comparecer como foi no caso da jornada para a matéria, quando meu amigo Marquinho, guia de pesca na região, inclusive na pesca de corvinas, pegou uma de muito bom porte, tal como se demonstra em uma das fotos mais abaixo.

A pesca de corvinas pode ser feita com iscas vivas, quando então, o melhor mesmo é conseguir alguns lambaris de pequeno porte, ou então, pequenas tuviras ou tilapinhas. Para este tipo de pesca, usa-se uma montagem parecida com a conhecida “down-shot” muito utilizada na pesca de basses. Trata-se de montar o anzol fixado acima do peso, cerca de 20 cm, fazendo um nó Palomar. Então, a isca viva fica em cima, enquanto o peso fica a cerca de 20 cm abaixo, na ponta da linha.

Eu não pesco com isca viva, pois afinal, matar um peixe usando-o como isca, para em seguida, soltar o peixe capturado, não faz o menor sentido, sobretudo para quem pratica a pesca com cem por cento de liberação como eu. Contudo, o uso de iscas naturais favorece bastante na hora de se localizarem cardumes, quando então, logo após a localização de um, passa-se a usar as artificiais.

Minha preferência recai sempre no uso de iscas como os jumping jigs de peso variando de 10 a 20 gramas, como os da foto abaixo. E, podem crer, que funciona mesmo!

Existe uma técnica para manter o cardume no local por um tempo maior, permitindo pescar mais peças, que é descer um saco com sal grosso ou sal mineral usado na alimentação de gado, fazendo várias perfurações no tecido para que o fluido do produto vá sendo liberado aos poucos. Isso pode ser feito também de antemão, valendo então, como uma ceva prévia.

Daí, é só descer as iscas até que alcancem o fundo, para em seguida, no caso dos jumping jigs, começar com os trabalhos de dar toques súbitos para cima com a vara, deixando descer novamente, repetindo o toque e repetindo a descida e, aos poucos, recolhendo a linha se não houver ataques. Contudo, se houver ataque, descobriu-se a profundidade em que elas estão, passando a descer a linha e insistir nesta profundidade. Um outro detalhe importante é buscar perceber a velocidade com que se aplica o trabalho, se mais rápido, ou se mais lento, conforme a preferência do peixe no dia. Então, se com toques rápidos nada vem passe a dar toques mais lentos ou alterne entre um e outro.

E, pescando certinho, aplicando tudo o que aqui foi exposto, os resultados podem ser estes:

Meu amigo João Bertucci e eu

Meu amigo Marquinho, guia de pesca em Jacareí e uma belíssima corvina de 2,5Kg.

Um detalhe muito importante na pesca de corvinas é que elas são frequentemente capturadas a grandes profundidades, de maneira que quando vem à tona pode vir a ser vítima de expansão da bexiga natatória em razão da descompressão muito rápida. Isso resulta em dificuldades para o peixe retornar à profundidade onde estava, chegando a morrer.

Em situação normal, o peixe vai subindo das profundezas aos poucos, de sorte que vai permitindo a entrada de ar na bexiga por um diafragma. Quando chega à superfície, não há reação à descompressão, vez que ocorreu gradativamente adquirindo ar aos poucos. Contudo, quando se reboca o peixe desde as profundezas, não dá tempo para uma recuperação gradual, de maneira que quando ele aflora e fica em contato com o ar, a bexiga praticamente chupa o ar para dentro e com isso infla demasiado porque o diafragma fica fechado, resultando que ele não consegue nadar de volta, porque a bexiga cheia o transforma numa espécie de “bóia” viva. Em princípio, era para ele não morrer, já que segundo apurei, o peixe consegue liberar o ar aos poucos enquanto flutua, voltando a uma situação de normalidade, mas há também o acúmulo de ácido láctico no sangue em razão do esforço na luta, resultando que o conluio das duas situações contribuem para a morte do peixe. 

Nas duas jornadas que fizemos para a matéria na revista, quase todos os peixes puderam retornar sem problemas, vez que estavam a cerca de 7 metros e nesta profundidade poucos apresentaram problemas com a descompressão. Destes poucos, praticamente todos puderam voltar depois de perfurada a bexiga natatória com uma agulha de seringa devidamente desinfetada, experiência que trago da pesca de black basses. No caso da corvina isso deve ser feito, perfurando-se exatamente onde termina a extremidade da nadadeira ventral estendida em linha reta sobre o corpo e observando a parte inchada do abdômen, esperando a saída do ar por cerca de 10 segundos. Durante procedimento recomenda-se manter o peixe na água, até mesmo para se poder perceber a saída do ar.

Fica fácil perceber as bolhas de ar saindo da bexiga natatória do peixe

Embora nunca tenha visto ninguém fazendo isso com corvinas, quis tentar justamente porque faço com o Black Bass e funciona, de maneira que julgava que com a corvina também assim haveria de ser. Então, pude constatar enorme sucesso na ideia, pois pescando à profundidade de 7 a 10 metros, após quase duas centenas de peixes capturados e liberados, apenas quatro morreram, tendo sido então, aproveitados para consumo. Com isso, fica o exemplo de que a pesca de corvinas pode ser também alvo de pesca esportiva, com liberação dos peixes. Todavia, há um enorme abismo entre os tipos de pescadores que a praticam. De um lado, uns poucos que pescam conscientemente, enquanto que de outro, uma horda de matadores, resultando em enorme predação, vez que há sempre a desculpa de que o peixe não consegue retornar para a profundidade em que antes estava, justificando matança sem precedentes. Desta maneira, não se sabe até quando a corvina permanecerá, mas enquanto for possível, é uma boa opção para a formidável represa da Usina do Jaguari!

Equipamento e iscas utilizados

IscasJumping-jigs do tipo sapinho, de 3cm a 5cm, com peso variando de 10 a 20 gramas, de cores variadas, mas preferencialmente amarelo-limão, prateada, laranja, rosa e preto, tanto sendo de uma só cor, quanto combinando duas delas, sendo uma de cada lado da isca. Também foram utilizados lambaris vivos, mas esta opção foi utilizada apenas para localizar cardumes, vez que a ideia de usar os jumping jigs foi bastante eficiente.

Varas: Pescando com iscas vivas, varas de 5,3 a 6 pés, de ação média, para linha de 10-12 libras e, pescando com jumping-jigs, varas de 5,3 a 6 pés, de ação média para rápida, para linha de 10-15 libras

Equipamento de recolhimento:

Carretilhas pequenas, de perfil baixo e molinetes de tamanho pequeno.

Linha:

pode tanto ser de multifilamento, quanto de monofilamento, de resistência de 20 libras. No caso de uso de multifilamento, recomenda-se usar um líder de mono, sendo melhor o de flúorcarbono em razão do contato permanente com galhadas submersas.

Quem estiver afim de pescar por lá com um excelente guia, recomendo meu amigo Marquinho. Basta procurar por ele no Facebook clicando em: Marco Santos

É isso aí! Espero que gostem!

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12 comentários em “A Pesca de Corvinas de Água Doce

  1. Embora não aprecie este peixe pelo fato do estilo para pesca-lo, vejo como monótono comparado aos que preciso de arremessos longos e recolhimento com trabalhos diferenciados na isca, aqui no rio Tietê vejo alguns assim apoitado num ponto do rio. Tal como você descreve Grande Bome, são meros matadores de peixes, nenhuma esportividade, vez ou outra um amigo idoso ganha muitas de pequenino tamanho. Você vai além da matéria a ser criada e de um pescador esportivo, um mestre estudioso de ciência e técnicas na preservação das nossas riquezas.
    abraços meu Amigo!

    Curtido por 2 pessoas

    1. Grande Roque, é um dos peixes mais predados por pescadores aqui na nossa região, mas hoje já existem alguns que passaram a soltar com o esvaziamento da bexiga natatória depois que leram esta minha matéria na revista e no Pescaki. Muito grato pelo comentário!

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  2. Bom dia, Sr Domingos!
    Já peguei Corvinas na Barragem do Jaguari anos atrás mas, como o Sr descreve, bem pequenas e meio que acidental, pois, estava pescando a noite no arrando….deviam estar perdidas do cardume.
    Esse procedimento de furar a bexiga natatória eu vi no programa Pesca & Cia, na época ainda apresentado pelo Rubens A. Prado, o Rubinho, que o Sr conhece. Ele estava pescando Bacalhau na Suécia e também mostrando a fabrica da AbuGarcia. Tinham que fazer isso porque os peixes chegavam a superfície quase explodindo devido a grande profundidade de que eram retirados.

    Excelente matéria sobre as Corvinas do Jaguari.

    Forte abraço!!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Grande Luciano, as corvinas são ativas à noite também, de maneira que as que você capturou não foram por acidente. Eu também assisti ao programa do Rubinho sobre isso. A técnica de furar a bexiga natatória é antiga e é preciso saber o local exato para inserção da agulha (é variável), porque isso pode resultar completamente ao contrário do esperado, com a morte do peixe em razão do procedimento errado. Grato pelo comentário!

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